“Critico o Governo porque acredito num País melhor” (#canalmoz)
“Na última vez que fiquei preso, durante 2 meses, o povo teve que intervir. Estávamos em tempo de eleições e as pessoas saíram à rua, foram até à esquadra exigir a minha libertação e ameaçavam não ir votar. O secretário distrital do partido no poder falou com o comandante para me libertar. Posso dizer que o meu advogado é o povo” – Refila Boy
Maputo (Canalmoz) - O semanário Canal de Moçambique entrevistou o músico Refila Boy, polémico pelas letras das suas músicas de intervenção social, principalmente pelas críticas aos governantes e em particular ao presidente da República, Armando Emílio Guebuza. A sua mais recente música chama-se “Armandinho” e explicou em primeira mão ao Canal de Moçambique a razão desta denominação.
Refila diz que se inspira nos acontecimentos marcantes da sociedade para escrever as suas letras, já têm cinco álbuns no mercado e uma carreira marcada por detenções e solturas que terminam tal como começam: sem nenhuma explicação plausível.
Ao Canal de Moçambique o jovem músico de Chókwè fala da sua carreira, da sua província, Gaza, e da governação do seu País: Moçambique.
Canal de Moçambique (Canal): - Fala-nos um pouco de si, quem é Refila Boy?
Refila Boy - Eu sou um jovem normal como os outros, nasci e cresci na cidade de Chókwè, onde vivo até hoje. Comecei a cantar há 10 anos e surjo como músico por estar cansado de ouvir músicas que não têm a ver com a nossa sociedade.
Canal - Porquê não faz músicas como muitos jovens seus contemporâneos, a falar de carros, mulheres e discotecas?
Refila Boy – Porque isto não tem nada a ver com a nossa realidade. Eu faço músicas com letras diferentes porque para mim isto é que é música de verdade, que tem conteúdo e as pessoas aprendem algo sobre a vida social. Penso que fazia falta este tipo de artista.
Canal - Como é recebida a sua música em Gaza, província tida como bastião do partido no poder?
Refila Boy - A minha música sempre foi bem recebida, o povo nunca a rejeitou. O povo pode ser apoiante do partido no poder, mas não está a favor de atitudes de alguns dirigentes.
Na verdade, quem não gosta das minhas músicas são os dirigentes. Estes, sim, tudo fazem para que as minhas músicas não sejam ouvidas.
“Prendem-me e soltam-me quando entendem”
Canal - É verdade que já foi preso?
Refila Boy - Sim. É verdade que já fui preso por causa das músicas que canto, alegando que falo mal dos governantes.
Canal - Quantas vezes foi preso?
Refila Boy - Foram várias vezes. Mas as mais marcantes foram três.
Canal - Porquê estas três vezes lhe marcaram?
Refila Boy - Nunca havia sido preso e em 2008 fui detido pela primeira vez e passei seis meses na cadeia; Há o caso de Chibuto, que teve repercussão pelo País. Fui preso em pleno espectáculo, a cantar; A outra foi marcante porque o povo se uniu para exigir a minha libertação. Mas todas as detenções foram humilhantes. Eu era algemado e escorraçado como se fosse um criminoso.
Canal - Nestas detenções já sofreu algum tipo de agressão por parte da Polícia?
Refila Boy - Sim, em Chibuto. Não sei contar muito bem o que se passou, mas lembro-me que fui torturado e tive ferimentos.
Canal - Como é que foi libertado em todas as vezes que foi detido?
Refila Boy -Temos um Governo muito estranho, difícil de saber como funciona. Muitas vezes entre os governantes se entendiam, chegavam a um consenso e me libertavam. Do nada me tiravam da cadeia.
Canal - Então nunca chegou a contratar um advogado para lhe defender?
Refila Boy - Nunca. Por exemplo, na última vez que fiquei preso, durante 2 meses, como eu já havia dito o povo teve que intervir. Estávamos em tempo de eleições e as pessoas saíram à rua, foram até à esquadra exigir a minha libertação e ameaçavam não ir votar. O secretário distrital do partido no poder falou com o comandante para me libertar. Posso dizer que o meu advogado é o povo.